ESCOLA, PLANEJAMENTO E DEMANDAS...

Andei preocupada com a proposta de Linguagem e Educação, sobre Plano de aula...
Entendo que o planejamento é indispensável para sucesso das aulas, mas não consigo aceitar a idéia de um planejamento extremamente detalhado, com todos os mínimos detalhes especificados, pois acredito que as demandas da sala de aula são tantas que esses detalhes se tornam dispensáveis ... Conversando com colegas do curso ouvi os seguinte comentários: Ao não detalhar o máximo possível nosso plano de aula, ele compromete a avaliação do professor... E, ainda, deve ser bastante minucioso para que qualquer pessoa possa entendê-lo e aplicá-lo ... Começo pelo fato de que se sou eu a professora que avaliará a aula e a aplicará, porque devo explicar para eu própria os procedimentos que devo fazer? Quando apenas referindo-me a eles já saberei como agir ... Não sei bem, mas me parece um pouco descabido escrever, por exemplo: Iniciarei a aula pegando o giz branco e escrevendo no quadro negro a data com dia, mês e ano em letra cursiva, etc... Ou ainda: o jogo possui tantas peças... de tais e tais cores... com o objetivo de... Se selecionei aquele jogo, já sei o objetivo e propósito do mesmo! Pouparia-me muito mais tempo e seria muito mais útil apenas a referências, como: data no quadro, ou melhor: data. E, para meu entender pior mesmo é dizer que é para que qualquer pessoa possa aplicar... Quer dizer que a funcionária da portaria pode me substituir e por essa razão meus registros devem ser minuciosos porque dessa forma ela desempenhará perfeitamente meu trabalho? Então trocando em miúdos é só o médico cirurgião me deixar seus registro minuciosos que eu posso operar em seu lugar?
Na área da educação todos dão suas opiniões... todos podem opinar e dizer que podem fazer como nós, ou melhor, sempre tem alguém com alguma receita para dar certo, e geralmente é alguém bem distante da sala de aula, muitas vezes políticos ou profissionais que há muito tempo deixaram de exercer a profissão... Para esses também tenho a minha receitinha e é bem simples: voltem para a sala de aula, mas não qualquer sala... aquela lá da periferia, do morro, da vila mesmo, sem recurso nenhum,com salas lotadas de alunos, sem espaço físico para acomodá-los e com todos os pormenores cotidianos e sintam suas demandas... Após tenham a liberdade de passarem suas receitas ...
E, no meio disso tudo, de tantos discursos e julgamentos como fica todo o trabalho desempenhado pela escola, toda a sistematização, todo o respeito ao processo, todo o nosso esforço? Fica abafado, sufocado, por novas e novas receitinhas ... De fato, todos esses “TODOS” estão sendo deixados de lado cada vez mais e o único "todo" que fica é o que a escola é cada vez mais responsável e culpada pelos fracassos da sociedade ... Eximindo as demais esferas como família, política social, saúde e etc... de suas parcelas de “culpa”. Não é a toa que o profissional professor aparece entre os profissionais com maiores índices de estresse, e ainda não é por menos que ouvimos dizer que está em extinção...
Não sei, estou um pouco cansada com a situação do magistério ...
O mesmo digo ao fato de enfrentar uma dificuldade com algum aluno e manifestar com os demais professores esse problema, se é de disciplina, então, nem se fale ... O SOE e o SOP começam a questionar como se o professor fosse o problema, as colegas que nos corredores também relataram as mesmas dificuldades, emudecem, e você está na inquisição ... Passam a te analisar, questionar ... Agora você é o problema ....Parece que os discursos e receitinhas acabam entranhando mesmo...
Essas situações acontecem seguidamente, relacionadas a decisões tomadas na escola, a dificuldades com alunos, e tantas outras situações do cotidiano escolar, mas o que me espanta é que nos bastidores a grande maioria concorda ou desabafa como você, mas basta haver uma reunião para discutir o caso e pronto, ninguém quer “se expor, se incomodar” ... E, ainda há aquelas pessoas que dizem uma coisa e fecham a porta de suas salas e fazem outra .. bem diferente ... e aquelas que enfrentam visivelmente a mesma dificuldade que você e possuem a mesma opinião e no momento de discussão tem a coragem de dizer aquela frase: é mesmo ... comigo ele se comporta bem, acho que é só contigo .... ela é a mesma colega que fez comentários catastróficos a poucas horas sobre o mesmo aluno que reclamo ... Da minha parte dá aquela vontade de pular num pescoço, mas nesse momento é no dela ... he,he,he,he ...
Bom, estou desgostosa com a situação do magistério e da pedagogia, pois todas as colegas as quais faço referência são formadas em demagogia. Opa, quer dizer, pedagogia! E, seus discursos estão muito distantes da prática, para elas as piores ações enfrentadas dentro da escola são “normais” parecem anestesiadas por uma incrível normalidade... Um aluno propositalmente esperar o outro estar de costas para lhe cravar um caco de vidro no pescoço, após quebrar uma janela com esse propósito no início da manhã e fazê-lo ao final dela: NORMAL! Cuspir nos rostos dos colegas, dar um soco em um que não lhe fez nada e estava distraído até sangra-lhe o nariz e ainda rasgar todos os cadernos da sala de aula para chamar a atenção porque não foi o ajudante do dia: NORMAL! Os problemas acontecem, as crianças são encaminhadas para uma conversa com o SOE e o aluno volta premiado com bolachas, ou fica um tempo jogando no computador, sem serem tomadas maiores providências e em poucos minutos ele retorna para a sala e ainda diz: "não deu nada" ... E se todos resolverem se darem conta da política do "não dá nada" e soltarem suas feras ... Tanto desrespeito pode gerar mais desrespeito ... Assistimos a política do "não dá nada" diariamente nos noticiários em jornais e televisão, envolvendo grandes nomes, grandes políticos, porque não praticar um pouco na escola, não é mesmo?!
Sei que as medidas a serem tomadas pela escola, não são muitas, mas com tantos episódios e tantas repetições, algumas atitudes deveriam ser adotadas, porque ao meu ver o direito de um termina onde inicia o do outro, o que dizer para as famílias no final da manhã ao entregar um aluno com o rosto inchado, após apanhar gratuitamente, o que dizer para a mãe que comprou um bonito caderno para sua filha e o colega rasgou-o por completo?

Um comentário:

Anice - Tutora PEAD disse...

Olá, Daniela!

Todo este teu desabafo diz muito.

Imagino mesmo tua indignação com este cenário. Infelizmente, em todas profissões há os que se escondem, há os anti-éticos, há os que negam a realidade, enfim, são tantas variações, não é mesmo?

Acho que o mais importante é esta visão crítica. Tens o que muitos jamais terão que é esta capacidade de compreender o entorno, a relação entre as pessoas, as dificuldades, impotência, injustiça. É assim que tento pensar quando algo me revolta e percebo que há um "caos" a minha volta.

Abraço, Anice.