O olhar da criança ...

Está semana ouvi uma conversa na sala dos professores que chamou minha atenção. Duas colegas conversavam sobre o questionamento de uma aluna, com quem trabalhei em uma turma que atendi no ano passado, este ano a aluna freqüenta uma A20. A menina ao ver os cabelos soltos da professora, que usa o cabelo liso, percebeu que este em sua raiz era crespo e questionou a professora, com ar de surpresa:
− Sora, teu cabelo é crespo? Está professora respondeu que sim com naturalidade. Mas a aluna questionou porque era crespo e a professora respondeu que ela era de origem negra como alguns colegas da turma e que seu cabelo era uma característica desta etnia. A menina mais uma vez ficou surpresa e negou que a professora fosse negra dizendo: − Mas você é tão clarinha... A professora continuou a conversa dizendo existir vários tons de pele, etc... Mas a menina ainda insistiu: − Tu é professora!
Não sei o que a menina quis dizer com isso, mas percebi que nas escolas em que atuo existem apenas duas professoras de origem negra, num grupo de oitenta professoras, e eu nunca havia me dado conta disso. O olhar da criança realmente é muito atento. Quantas coisas estão por trás desta fala ... Não consegui conversar com minhas colegas ainda a respeito deste episódio, mas gostaria muito de saber aonde a conversa chegou, se continuou ... Talvez essa semana possa saber mais ...


Procurando material para trabalhar assuntos na sala de aula como inclusão e etnias, encontrei esse dois livros: NINGUÉM É IGUAL A NINGUÉM e APELIDO NÃO TEM COLA, de Regina Otero e Regina Rennó. Estes livros pertencem a uma rica coleção que trazem assuntos extremamente atuais e pertinentes a nossa sala de aula, eles são o resultado da parceria de uma psicóloga com uma autora e é um material que pode ser usado como suporte em todas as disciplinas.
No primeiro livro: Ninguém é igual a ninguém, o personagem principal é a própria crianças que irá utilizar o material, este material propõe a expressão livre das crianças colocando seus valores, limites e vivências no cotidiano, cabe ao professor conduzir as atividades sem interferência de valores, conceitos e criticas deixando a criança a vontade para promover uma grande discussão. No livro Apelido não tem cola, podemos trabalhar especialmente estereótipos, discriminação, etnias, entre outros assuntos.

DILEMA DO ANTROPÓLOGO FRANCÊS

O dilema do antropólogo francês:

Claude Lee, antropólogo francês, acaba de chegar numa ilha de um arquipélago na Polinésia. Sua missão é pesquisar os hábitos dos nativos que lá habitam. Os costumes dos nativos são bastante diferentes dos costumes dos franceses, mas ele tem o cuidado de não julgar o modo como estes nativos vivem, porque tal avaliação sempre seria parcial. Como poderíamos abstrair sinceramente a concepção de mundo que herdamos da nossa cultura e avaliar imparcialmente todas as culturas?
O antropólogo tem ainda outro argumento: qual seria a medida pela qual julgaríamos as culturas? Existem quesitos transculturais que nos permitem avaliar toda e qualquer cultura? A reposta do antropólogo é não: toda avaliação está condicionada pela cultura do avaliador.
Assim, Claude decidiu jamais interferir no modo de vida dos habitantes do arquipélago. Estes, contudo, possuem uma crença que testa a determinação do antropólogo: os nativos acreditam que os mensageiros dos deuses são homens de pele branca, seres que expressam a vontade absoluta dos deuses – tudo o que disserem deverá ser obedecido. O teste ocorre na pergunta que eles lhe fazem: “você tem a pele branca, então você é um mensageiros dos deuses, ou as nossas crenças estão erradas?”
O antropólogo, fiel aos seus princípios, mente: “sim, eu sou o mensageiro dos deuses”. Mas então surge uma pergunta ainda mais difícil: “todos os homens brancos são mensageiros dos deuses, ou as nossas crenças estão erradas?”
Claude reflete: se responder positivamente estará deixando os nativos vulneráveis aos seus conterrâneos inescrupulosos que fatalmente descobrirão a ilha. Mesmo assim, responde de acordo com a cultura dos nativos: “sim, todos os homens brancos são mensageiros dos deuses”.

Minha reflexão aqui girou em torno da atitude do antropólogo em assumir-se um mensageiro dos deuses, acredito que o antropólogo agiu conforme sua consciencia, seus principios, partindo de sua fala: não interferir nos custumes dos nativos. Apesar de sua próporia presença naquele ambiente já ser uma interferencia, se descordasse destes estaria indo contra as crenças deste povo, pois para eles todos de pele brancas seriam mensageiros dos deuses e o proposito do francês era o de não interferir na cultura dos nativos....

ACESSO A EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Nas escolas que atuo, da forma que se apresentam atualmente, não praticam uma educação inclusiva. Na verdade o que fazemos é uma adaptação da criança com necessidades especiais a escola e não o contrário, como deveria ser. A escola deveria garantir acesso tanto em seu espaço físico, (o que ainda não acontece) como dar condições para que essa criança aprenda. Para tanto o desafio é realizar um planejamento diferenciado que propicie a este aluno o desenvolvimento de suas capacidades, um atendimento multidisciplinar para atender suas especificidades. Trabalho esse que depende do engajamento da escola como um todo, direção, professores, funcionários,etc... todos envolvidos para o sucesso deste aluno, o preconceito vem do olhar do adulto que fica penalizado por ter determinado aluno em sua sala de aula, a barreira é imposta por adultos, pois rapidamente percebo a integração dos alunos, que acolhem essa criança, sem distinção. Vários são os entraves de ordem financeira, falta de atendimentos especializados, descaso das autoridades, poucas vagas em instituições, etc...
As diretrizes estabelecem que a identificação de necessidades especiais dos alunos deve ser realizada pela escola, com assessoramento técnico, mediante avaliação no processo de ensino aprendizagem. As metas estabelecidas pela educação especial falam de padrões mínimos de infra-estrutura incluindo adaptação de prédios escolares e garantir a vaga do aluno especial em ensino regular, mas exige que sua permanência seja com qualidade, sugere também que as escolas especiais prestem apoio à escola regular.

MOSAICO

Ao realizar uma atividade de aula, percebi que muitas crianças negras se desenham loiras de olhos azuis... Uma série de questionamentos surgiram:
Que cor é minha pele? Que cor posso pintar meu auto-retrato? A minha cor é igual a sua? Pinta de cor de pele! (disse um aluno mostrando o lápis de cor salmão)
Ao iniciar o trabalho MOSAICO, os alunos relataram a dificuldade em encontrar em revistas e jornais fotos de pessoas de "cores diferentes"... Rapidamente voltaram-se para si, com quem se parecem, por que puxaram a cor que possuem ... E o assunto rendeu muito ...
Ao termino da atividade, estávamos mais próximos, nos conhecendo mais a si e ao outro, um sentimento de grupo, coletivo, identidade surgiu, com ele uma sugestão de título para o trabalho: "todos nós somos um" dando a ideia que todos juntos formamos um único grupo e que cada um de nós é um pedacinho único, uma peça preciosa de um belo mosaico.

NECESSIDADES ESPECIAIS

O que posso fazer para contribuir na inclusão daqueles que são apenas diferentes de mim?

Para buscar essa resposta trilhamos o caminho do aprendizado, caminho este que nem sempre é fácil... exige desejo de conhecer, de se arriscar, envolver e agir... A busca dessa resposta é buscar uma sociedade inclusiva, pois o termo inclusão indica que quem deve mudar é a sociedade e não a pessoa. Para inicio a esse processo de inclusão devemos ter cuidado até mesmo com as palavras e expressões que devem denominar as diferenças ressaltando seus aspectos positivos e, assim promover mudanças de atitudes em relação a estas diferenças.

CLUBE DO IMPERADOR

Queremos transformar sempre, queremos que nossos alunos extrapolem os conteúdos, desejamos que valorizem a vida, digam não as drogas, cresçam trabalhem se formem, sejam do bem, bem sucedidos, percebam o mundo em que vivem, lutem por um mundo melhor, amem o conhecimento, a leitura, a vida, que não bebem, que não briguem, que gostem de conviver com outras pessoas (e com as diferenças), com a família, que cresçam em busca da harmonia, da paz, do amor, da verdade.
Definitivamente desejamos muitas coisas geralmente desejamos o melhor, o que queremos para nós próprios desejamos aos nossos, aos nossos alunos...
Não entramos na sala de aula apenas para transmitir um conteúdo, não damos apenas uma aula, queremos mais , além queremos que sintam o gosto e o sabor da leitura, a leveza da poesia, o sabor da matemática, o cheiro do verde da ciência, da ecologia ...
Neste momento somos um pouco exemplo, estamos à frente de nossos seguidores nossas palavras são sabias, não que não possuímos defeitos, e como possuímos, como erramos e nos culpamos no final do dia......por não ter dado devida atenção a fulano ou mais espaço a cicrano ... todavia um novo dia amanhece e seguimos, continuamos... Possuímos a capacidade de conquistar, de falar ao coração de deixar um pouco de nós em cada um e um pouco de cada aluno fica em nós ... é uma troca mágica, uma parceria de um ano inteiro de convivência e que findado dói na hora da despedida.... Quantas trocas... confidencias se vão ali, e nos preparamos para mais um ano... recomeçar tudo de novo, novas experiências, novos rostos, algumas velhas angustias.... procura por resoluções de problemas, conflitos novos e velhos se misturam, e o professor a cada ano incessantemente busca o novo, uma nova maneira, sem se acomodar investe novamente renova suas forças e segue ... A nossa recompensa é o reconhecimento e gratidão dos alunos que batem em nossa porta ... alunos que após termos passado por suas vidas nos procuram, contam coisas nossas que ainda lembram, nos dão aquele beijo que molha a bochecha, abraços que quase nos levam ao chão ... Essa é nossa recompensa, nosso premio, nosso pagamento. O que vale é saber o quanto fomos significativos e fizemos parte da vida de cada criança, o quanto conseguimos auxiliá-los com um conselho, afago, palavra ou silencio, gesto, ensinamento que levaram para sua vida pessoal ou profissional.

O CLUBE DO IMPERADOR



O Clube do imperador traz um professor que vivencia um dilema real a todos nós professores. Investimos em nossos alunos, apostamos nossas fichas, muitas vezes damos uma segunda, terceira oportunidade, burlando nossos próprios princípios acreditando em um ideal, em um potencial... Em quantos e quantos conselhos de classes damos aquele empurrão, aquela nova chance ... Acreditamos, sempre ... Mas, somos humanos e de verdade esperamos um retorno, um algo em troca, algo que na verdade não devemos e podemos contar, nem esperar ... Fazemos nosso papel, nos esforçamos para incutir um pouco da nossa verdade em cada um deles, mas os deixamos partir, num mundo bem diferente do que sonhamos... Resta-nos apenas que nossos ensinamentos sejam lembranças nas memórias destas crianças e que de alguma forma possam ajudá-los neste mundo...

Método clínico

A aplicação do método clínico de Piaget inicialmente gerou certa desestabilidade nas aplicadoras, não possuíamos experiência com esse tipo de prova, por isso sentimos insegurança. Depois que nos apropriamos do teste e das respostas nos sentimos mais seguras para sua aplicação. Necessitávamos do conhecimento prévio e da segurança de sabermos o que estávamos aplicando. Uma experiência bastante proveitosa, pois até então falávamos sobre os testes e seus resultados, mas na prática nunca havíamos experimentado.

Cores ...


A diversidade é feita de muitas cores, a inclusão escolar deve se apropriar dessas cores, de seus custumes, saberes, para nos tornarmos cada vez mais únicos e mais unidos, quando conhecemos o outro passamos a conhecer melhor nós mesmos...
As vezes pertecendo a uma mesma raça, cultura, grupo familiar, não nos entendemos, não conseguimos nos fazer entendidos, parece que falamos linguas diferentes e nossas razões não são as mesmas, imaginem tentar interferir sem conhecer no "mundo do outro", sem sabe sua cultura, tentar impor-lhe valores...